Soam vãos, doloridos epicurista,
Os versos teus, que a minha dor despreza;
Já tive a alma sem descrença presa
Desse teu sonho, que perturba a vista.
Sa perfeição segui em vã conquista,
Mas vi depressa, já sem a alma acesa,
Que a própria idéia em nós beleza.
Um infinito de nós mesmo dista.
Nem à nossa alma definir podemos
A perfeição em cuja estrada a vida,
Achando-a intérmina, a chorar perdemos.
O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
Mas não a ância da coisa indefinida
Que o ser indefinida faz tamanha.
by Fernado Pessoa
quarta-feira, 12 de maio de 2010
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